Artigo

NOSSA MEMÓRIA COMO GUARDIÃ DA HISTÓRIA

Publicado: 28/04/2025 15:11

“Por ter algum nível de relação com o coronelismo do passado, as práticas político-clientelistas atuais nos fazem pensar que nelas existem relações de poder. Porque, assim como as ações coronelistas visavam evidenciar o poder do coronel sobre muitos, igualmente o Coronelismo Político contemporâneo busca – para além de permitir a troca de favores entre os envolvidos – fortalecer o “neocoronelismo” M.Joais
                                                                                                  

A importância da memória como guardiã da história é fundamental para preservação do passado e construção do presente e futuro. Ela funciona como uma espécie de arquivo vivo, transmitindo experiências, tradições, eventos e valores de geração em geração e ajuda lembrar comportamentos de diferenciados grupos em curto espaço de tempo.  

Através da memória, conseguimos manter viva a identidade cultural, entender nossas raízes e aprender com os acontecimentos históricos. Portanto, a memória é essencial para assegurar que a história não seja esquecida, servindo como uma guardiã que mantém viva a essência da nossa trajetória.

Esta menção sobre o papel da memória, serve para analisarmos acontecimentos e comportamento dos trabalhadores em educação no município de Várzea Grande e, a dificuldade na construção de uma luta coletiva que garanta a valorização profissional para todos.

Primeiramente é importante lembrar que em Várzea Grande ainda impera o clientelismo e o fisiologismo fértil, principalmente em períodos eleitorais, com promessas de emprego e outros “favores”, usados como moeda de troca, e neste caso, o “favorecido” vota e arrasta o voto da família para aquele que o “beneficiou”, muitas vezes elegendo candidatos que não têm nenhum compromisso com a ética e com o povo. 

Esse comportamento também é reproduzido em muitas escolas com filhos, noras, maridos, parentes amigos empregados - às vezes sem cumprir os critérios exigidos na seleção de candidatos a vagas de trabalho. Para manutenção dessa situação, foi preciso ‘desmontar’ o curto período de gestão democrática nas escolas e assim voltando a imperar a indicação de políticos com o rateio das escolas  e   funções  que deveriam ser de confiança da comunidade escolar, são preenchidas por indicações político partidária.

Em segundo lugar, referindo-me ainda a memória como guardiã da verdade, esta situação cria grupos sem identidade coletiva, que se agregam por conveniências e interesses individuais, em detrimento do bem comum. 
Isso legitima a desigualdade entre iguais. Um exemplo, é a diferença de salário entre um professor efetivo em relação ao do contratado. Os dois exercem as mesmas atividades e têm salário inicial absolutamente desigual. 

Se a normalização da desigualdade entre professores é aceita entre os pares, ela se torna igualmente natural no  caso dos técnicos em alimentação escolar, higienização e limpeza assim como os vigias, que ainda convivem com parte do professorado que não admite igualdade salarial para os que têm a mesma formação acadêmica. 

Na nossa concepção, tal comportamento gera depauperização material, moral e cultural do profissional da educação em consequência a ‘pobreza política’ que afeta a participação e obtenção dos direitos da pessoa assim como, impede o exercício da cidadania.

Somando-se a outras compreensões, compreendemos a necessidade de falarmos deste tema, porque este é o lugar de enunciação, que permite desvelar e/ou tornar público o que vem acontecendo em Várzea Grande.

O Sintep Várzea Grande, sempre lutou pela recomposição salarial para todos: professores e funcionários. Nesta luta, enfrentou resistências por parte de grupos que se organizam por ‘fora’ das lutas coletivas trazendo consequências negativas para a devida valorização profissional em especial aos funcionários de escolas. Esses, por vários anos, não tiveram reajustes salariais e acumulam prejuízos incalculáveis e de difícil reparação pelas perdas salariais acumuladas ao longo dos anos.

A gestão anterior a atual, fracionou a recomposição de 12. 84% em duas parcelas sendo uma em maio e outra em outubro. O Sintep fez o enfrentamento sobre a ilegalidade da proposta, por desrespeitar a data base da categoria, que é janeiro, além do prejuízo de não ser retroativo. 

O Sindicato foi duramente acusado de retardar a recomposição e, novamente grupos escusos buscaram negociar junto aos algozes, promotores das injustiças. Desse modo, a categoria em sua maioria, sem a devida reflexão sobre os fatos e suas consequências, aceitou a proposta parcelada que contribuiu para o vergonhoso salário pago em Várzea Grande até nossos dias: sem garantir a data base e sem pagamento da retroatividade integral da segunda parcela.

Manobras como essa, explicam o porquê mais de 50% da categoria estar recebendo ‘complemento’ salarial para se chegar ao salário-mínimo. Ou seja, foram duplamente prejudicados, pois Várzea Grande não paga piso salarial profissional e ainda tem professores e funcionários ganhando abaixo do salário-mínimo, criando assim uma subcategoria. 

De novo a memória. A história diz que até Jesus Cristo teve opositores. Segundo a bíblia, os fariseus desempenharam um papel importante na oposição a Jesus Cristo, embora a responsabilidade direta pela sua crucificação seja atribuída às autoridades romanas. A hipocrisia religiosa que levou a crucificação de Jesus Cristo, naqueles tempos, vemos similaridade em tempos atuais. Os que compõem o grupo dos escusos, obstaculizam a caminhada sindical que é sempre coletiva sem, contudo, acorrer algum benefício próprio, mesmo que antiético, imoral e temporário.

 

Este texto reflete a opinião de Maria Aparecida Cortez - Graduada Licenciatura Plena em Pedagogia; Especialista em Metodologia do Ensino Superior; Membro do Fórum Municipal de Educação de Várzea Grande; Conselheira suplente do Conselho Estadual de Educação e do Conselho Municipal do Fundeb VG