Debate expõe contradições entre relatos de merendeiras e versão da Seduc-MT


As denúncias sobre a falta de merendeiras nas escolas estaduais serão alvo de um levantamento de demanda para averiguar as queixas apresentadas e as alegações do governo.

Publicado: 10/06/2025 17:40 | Última modificação: 10/06/2025 17:40

Escrito por: Roseli Riechelmann

Lina Obaid

Em reunião convocada pela Comissão de Educação da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, nesta terça-feira (10/06), foram expostas denúncias recorrentes feitas pelo Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT) sobre o adoecimento das merendeiras nas escolas estaduais, causado pela sobrecarga de trabalho decorrente do número insuficiente de profissionais.

A reunião, solicitada pelos deputados estaduais Janaina Riva e Henrique Lopes, teve como objetivo obter esclarecimentos do secretário de Estado de Educação, Alan Porto, a respeito das reclamações encaminhadas aos gabinetes parlamentares sobre a falta de profissionais responsáveis pela alimentação escolar. A escassez de merendeiras tem gerado sobrecarga e adoecimento entre essas trabalhadoras.

Durante a audiência, a profissional da merenda Irani Silva de Oliveira deu voz às angústias da categoria. A educadora relatou o desafio de preparar três refeições para até 250 estudantes, acumulando ainda funções como a limpeza da cozinha e do refeitório, além do controle da despensa da unidade escolar.

O depoimento foi reforçado por Célia Costa, também profissional da nutrição escolar. Ambas relataram o aumento dos casos de adoecimento devido à rotina exaustiva, que envolve o preparo dos alimentos, o serviço de entrega das refeições, a lavagem dos utensílios utilizados pelos alunos, além do manuseio diário de panelas com até 30 quilos. “As profissionais estão adoecidas e, mesmo doentes, continuam indo trabalhar para não perder a Gratificação por Resultados. Um recurso que, se é para valorização, deveria ser incorporado ao salário das servidoras”, sugeriu Irani.

 Francisco Alves
Célia Costa, merendeira da rede estadual e dirigente do Sintep-MT 
 

Em defesa da atuação do governo, o secretário Alan Porto destacou investimentos em utensílios de apoio às profissionais, a implementação de lava-louças e a ampliação do cardápio escolar. No entanto, segundo Klebis Marciano, secretário de Funcionários do Sintep-MT, tais medidas não atendem a todas as unidades escolares, conforme denúncias feitas pelas próprias profissionais. Ele ressaltou que, em muitos casos, os novos equipamentos acabam aumentando ainda mais o trabalho das merendeiras, que precisam higienizá-los, o que exige mais tempo e esforço no preparo das refeições.

Lina Obaid
Klebis Marciano, secretário de Funcionários do Sintep-MT, falou em nome das merendeiras sobre as realidades divergentes da fala da Seduc-MT

Durante os debates, a deputada Janaina Riva enfatizou a necessidade de um levantamento preciso sobre a situação das merendeiras, especialmente diante do contraditório apresentado pelo secretário. Segundo Alan Porto, ele desconhece os problemas apontados, apesar de as denúncias existirem há mais de dois anos. O secretário afirmou ainda que as escolas que tem visitado não refletem a realidade exposta na audiência.

Diante disso, o deputado Henrique Lopes, também dirigente do Sintep-MT, rebateu a fala do gestor e destacou que as visitas feitas pelo secretário contemplam apenas cerca de 50 escolas, enquanto a rede estadual possui mais de 600 unidades. Ele reforçou a importância da realização de um levantamento amplo, que permita confrontar as alegações do governo com os relatos apresentados pelas trabalhadoras.

Outro ponto contestado foi a afirmação do secretário de que não existe a situação de uma única merendeira atendendo 250 alunos. O presidente do Sintep-MT, Valdeir Pereira, desmentiu a declaração ao citar uma portaria publicada pelo próprio governo, que trata da distribuição de profissionais da alimentação escolar. “As ações da Seduc-MT são regidas por portarias. No caso, essa portaria específica estabelece, no artigo 52, o quantitativo de profissionais da merenda por escola”, afirmou.

Veja na íntegra o debate na ALMT